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Falência Existencial
Neste São João passado, como eu estava só, com amada longe, amigos longe, Cachorros e gatos em outras paragens. Resolvi dar uma de povo. De gente comum, como se eu não o fosse.
Sou daqueles egocêntricos que se sentem eternamente diferentes. E por mais que não seja,
sempre me acho diferente. Resta saber se sou mesmo. Diferente. Às vezes acredito que sim. Mas quando lembro que todo ser humano que conheço pensa o mesmo, que também se acha único e diferente e jamais massa ou gado, fico meio perdido nessa filosofia.
Mas o fato foi que eu resolvi ir a um forró. Coisa que não vou há anos.
E lá estava eu, pedindo licença à multidão, vendo luzes, cheiro de conhaque, mulheres bonitas e vazias, homens bonitos e vazios, mas todos com uma grande tendência à embriaguês e a roupas quadriculadas.
Parei no meio daquela gente aparentemente feliz. E fiz pose. Fiquei lá, parado, esperando sei lá que porra e olhando as pessoas.
Me senti velho. Com meus 27 anos. E de novo diferente.
É chato ser gênio e mal amado, que com certeza é o meu caso. Só me sentiria bem se toda aquela multidão me conhecesse. Comecei a pensar essas bobeiras e quando já estava sendo carregado pela multidão, um grande amigo meu me bate no ombro. Tive que deixar minha fantasia egocêntrica de lado e abraçá-lo de alegria.
Que bom!
Alguém que me conhece! E de verdade! Eu poderia mandá-lo à merda e ele ainda me amaria, ou talvez chorasse se eu morresse.
Conversamos empolgados durante uns três minutos. E depois,
coisa horrível, apoderou-se de nós algo que, para mim, sempre ocorreu, mas só agora eu tive consciência... nos dois éramos amigos de infância, mas não tínhamos mais nada o que falar um do outro. Ou para o outro. Paramos de falar naturalmente e, aos poucos, lado a lado, fomos fazendo pose e ficando calados vendo aquela multidão pretensamente feliz que nos incomodava.
Voltei para as minhas fantasias egocêntricas e ele, provavelmente, para algo similar.
Conclusão: Se quem eu amava (meu amigo) não me completava, imagine aquelas pessoas coloridamente alegres, de quem eu tinha desprezo e inveja?
Somando a minha chegada, as minha elaborações mentais, e o encontro com meu amigo, não durei 15 minutos naquele forró.
Fui para casa, e às vinte e uma horas e trinta minutos do dia 24 de junho estava dormindo. E o São João de vocês?
(c) Alan Miranda |
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