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A princesa e sapo
O sapo continuou sapo...
Revi o maior amor de minha vida.
Dizendo isto corro o risco de perder as atuais mulheres da minha vida, mas a verdade é esta. É. Eu também tenho o direito, tive um grande amor no passado, sim. que foi maior que tudo. Com direito a tapas na cara, declarações públicas de amor, tentativas de suicídio e tudo o mais. É... Já andei de bicicleta desejando que o carro me pegasse, e já fiquei na beira da ponte pensando em me jogar. A sorte é que, no caso da bicicleta, eu sempre esperava que o carro viesse a mim e não eu a ele. E, no caso da ponte, por não ser muito grande distância da água, desconfiava que seu eu não me afogasse teria que nadar aquilo tudo de volta. Enfim, não me matei por preguiça, eis a verdade. Ou então, não quis sentir mais dor, caso o carro não me desse cabo de vez. Tem um amigo meu que tentou Baygon, mas descobriu através de uma lavagem que não deu muito certo. Quem me vê – e lê – acha que sou a calma e a maturidade amorosa em uma só pessoa. No entanto, já chorei muito em ombro amigo, e me deixei humilhar muitas e muitas vezes.
Pois tive um amor assim. Me atrevo até a dizer o nome dela: Patrícia.
Ah, Patrícia... Como ela linda, e inteligente, calma e inteligente, gostosa e inteligente. Não sei o que viu em mim, que não sou lindo, e sim, feio e esquisito, sujeito à citações de Marx e Nietzsche, nada fã de carnaval e amante do Bob Espoja.
O fato é que um dia a gente se bateu no colégio, virou amigo, o tempo passou, o mal da paixão foi nos tomando, e com este mal a nos ensandecer ela terminou com o namorado de lá e eu terminei com as minhas de cá.
Mas, como sempre há na vida dos poetas, dos intelectuais, dos otários e dos cornos, havia uma loira no meio do caminho... no meio do caminho tinha uma loira. Que eu tracei. Patrícia soube e deu o troco. Ficamos nessa um bom tempo, um dando o troco no outro até que, resumidamente, terminamos. Ela me mandou à merda e não quis mais falar comigo.
E já se foram 8 anos. Passei dois anos querendo morrer, mas a morte não veio, e sim, o teatro. Que passei a fazer para esquecê-la.
Esquecer, esquecer, eu não esqueci não, porém passei a ser feliz, me apaixonei de novo e tudo tornou a andar.
Mas ela sempre lá, a passear em minha cabeça, a entrar em um ônibus em outro corpo, em um cabelo que não era o dela.
Hoje a vi. Casada e com um filhinho.
Não senti nada. Apenas a reconheci. Passei por ela, E... nada. Para não dizer que não senti nada, tentei ver se ela continuava gostosa, mesmo depois de tanto tempo e com um filhinho.
Mas, além de ser impossível olhar para ela sem dar bandeira, esse tipo de postura não combinava com o contexto: imagine, eu queria ver se a mulher da minha vida continuava gostosa, somente...? Com que vergonha eu me peguei pensando nisto. O fato foi que eu não consegui vê-la direito, neste aspecto da gostosura. Mas tenho cá para mim que ela perdeu um pouco. Da gostosura.
No entanto, é necessário dizer: Eu ainda amava Patrícia... Mas não era aquela que estava ali. Amava uma mulher que ficou há 8 anos atrás, no meu passado. Ela ficou lá com a minha juventude, alguns sonhos não realizados e uma vontade de dizer muita coisa que não dá mais tesão de falar nos dias de hoje. Fiz de tudo pra não perdê-la, mas errei muito tentando.
Raciocínio trágico: Uma pessoa que significou tanto não está ao meu lado nem para rir de mim. A única coisa que ficou dela, só está em minhas memórias ao lado de um Alan que sempre me visitará na velhice.
É muito triste isso, mas paradoxal também. Porque, se não perdesse ela, não me encontraria. Não seria o que sou hoje, não escreveria, nem teria essa profissão. Para esquecê-la, acabei fazendo teatro, e aqui estou.
Por isto mesmo, a vi, fingi que não, dei meia volta, e fui em direção aos próximos oito anos desta minha vida tontinha, tontinha...
(c) Alan, o Miranda. http://www.alanmiranda.blogger.com.br
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