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UM BREVE DEPOIMENTO
A fala do artista como qualquer fala, não fala do trabalho de arte, insinua um modesto conhecimento que pode apenas facilitar o relacionamento do espectador com a obra. É possível se falar de inúmeros pontos de vista, mas o mais importante é se defrontar com a obra, só o olhar pode tocar na sua “essência”.
A arte é uma forma de conhecimento que exige leituras e reflexões específicas.
Uma obra encerra múltiplas possibilidades de indagação. Recriamos as imagens em nossa percepção, e as modificamos subjetivamente de acordo com nossa experiência de vida. Projetamos sobre elas os nossos valores e nossas inquietações. As obras de arte se completam de formas diferentes na imaginação de cada espectador.
O Fazer e o Conceito
"Cabe sempre ao artista fazer de muitas coisas uma só, e da menor parte de cada coisa criar um mundo". (Rilke)
Trabalhar com o essencial de elementos plásticos para construir um objeto ou um lugar por onde transita a imaginação e sonha o impossível é uma questão de método. O objeto de arte acrescenta ao mundo uma provocação. Não há outro compromisso que não seja com o belo, entendendo-se o belo como uma idéia reconhecível que ao ser depositada na matéria reprocessada pelo artista, seduz o olhar, a admiração e o pensamento.
As minhas pinturas e esculturas são pensadas e executadas dentro de um mesmo princípio. A realização de uma única coisa ou criar com o mínimo um mundo. Em pequenos formatos (maquetes e objetos) que sonham em ser grandes, abrigos não habitáveis, arquiteturas do acaso, leves e lúdicas. As esculturas/objetos construídas em série são formadas com peças repetidas que se multiplicam e se diversificam segundo a ordem dos encaixes ou das combinações. Novas posições insinuam novas leituras, novas esculturas. Coloridas, divertidas, não negam uma sintonia com a tradição construtiva e a arte conceitual.
Esculturas que são objetos pintados, planos e formas articulados, ou associação de dois ou três elementos diferentes, como se fossem maquinas, cujo
funcionamento não sabemos direito. Pinturas que desejam sair da parede e ocupar o espaço como as esculturas. Traço e cor são os poucos elementos que inserem na tela um modelo de pensar a construção da pintura.
Coisas diferentes das outras coisas que existem por si mesmas. Aceitar as suas provocações é participar de seu jogo secreto que faz o olhar pensar e brincar.
UM NÃO LUGAR
Texturas que procuram
uma superfície
vagam
transportam o vazio.
Só a pintura
tem o conhecimento
dos seus efeitos.
Possível abrigo
para a rotina
de um voyeur.
Pequenos Formatos
A opção por pequenos formatos nesta mostra se deu, por acaso. Primeiro, em função das dimensões da sala de exposição (pé direito e área da galeria). Segundo lugar, buscar uma intimidade na contemplação. Em tamanhos reduzidos também se reduz a distancia física entre o espectador e a obra, é preciso olhar mais de perto para detectar seus problemas.
Estado de arrebatamento.
No horizonte, o desconhecido.
O sentido
não encontra um porto.
Ausência de discurso,
audácia das trevas.
Região sagrada
onde deus
não encontra a liberdade.
A ausência de sentido é um paradoxo e a economia de gestos é uma proposta estética, não simplista mas síntese que faz parte do método do trabalho, cuja leveza e a evidente fragilidade visual convidam o olhar para um confronto no campo da sensibilidade e do pensamento.
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